3 de junho de 2005

o debate de quarta à noite

Mais uma vez, eu e a minha inseparável amiga Luísa (nome fictício) tivemos uma discussão sanguinária enquanto toda a casa queria jantar harmoniosamente. Referia-se a discussão à medida da moda, a de aumentar os impostos, em relação à qual somos os dois contra.

L – há uns tempos tive que ir ao oftalmologista no hospital (público). Esperei dois meses por uma consulta. Quando lá cheguei, tinham marcado todas as pessoas para a mesma hora, logo quem não era da terra (como eu sou) teve que esperar mais não-sei-quantas horas para ser atendido. E quando chegou a minha vez, fizeram-me o diagnóstico errado – disseram-me que o problema era no olho direito, quando na verdade era no esquerdo; uns dias mais tarde, paguei uma consulta privada e confirmei isso mesmo.

A – Claro...

L – Claro nada!!! Já que pagamos tantos impostos temos é que ter serviços públicos decentes!!!

A – Então não devias ser contra o aumento dos impostos! Eu preferia que isso não fosse feito pelo Estado, e assim houvessem menos impostos!

L – Isso é uma posição derrotista! Não eras tu que querias que fosse para lá o PS para afundar de vez com o país?!?! Agora tens o que querias!!!

A – Sim, porque o que é preciso em Portugal é que as pessoas levem uma chapada na cara como estas para ver se acordam para a vida e apareça alguém do PSD que pratique uma política mais liberal!!!

L – Isso é uma estupidez e nunca vai acontecer!!! É POR CAUSA DE PESSOAS COMO TU QUE AQUILO VAI MAL!!!!

A – SE MAIS PESSOAS PENSASSEM COMO EU ESTÁVAMOS MUITO MELHOR!! EM PORTUGAL QUEM CRIA RIQUEZA É CASTIGADO!!

L – MAS QUEM GANHA O SALÁRIO MÍNIMO NEM SEQUER PODE PENSAR NISSO!!!

A – ISSO É UMA POSIÇÃO DEMAGÓGICA!!! NÃO SE PODE DISCUTIR CONTIGO!!!

L – OLHA VAI À MERDA!!!!

...............

Ok, a nossa relação de amizade até é bastante saudável, já que hoje, dia da Républica em Itália, estamos os dois no Chiostro del Bramante a tomar café. Eu escrevo (e publicarei isto amanhã, dia 3, quando fôr trabalhar) e ela estuda pelo Kenneth Frampton, que ainda não é tão verborreico e novilinguista quanto o saudoso Mendes, mas lá se aproxima.

Fora os insultos, o tema é: ou queremos ter melhores serviços pelos impostos que pagamos, ou queremos pagar menos impostos e usar o dinheiro que sobra para pagar aos privados. Quanto a mim, a primeira hipótese é cada vez menos sustentável; em Itália, que funciona mais ou menos como nós (e onde se paga ainda mais impostos, desculpa que o meu chefe dá para me pagar um salário miserável), há greves do serviço público todos os meses, e ele funciona horrivelmente.

É óbvio que não podemos pedir que um político ganhe eleições com a promessa de acabar com a mama pública, mas que se podia começar, pragmaticamente, por algum lado, isso podia e até já esteve para acontecer. A privatização de um canal da RTP, da CGD, e a lei das rendas eram tudo medidas inteligentes que tragicamente não foram para a frente. Mas mais vale tarde...

1 comentário:

mafa disse...

eu tava lá! é sempre bom ouvir esse tipo de discussões, quando terminam dessa maneira... :p